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O que é o integralismo brasileiro?

  • Foto do escritor: Lorruan Alves
    Lorruan Alves
  • 21 de jun.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 22 de jun.

(Este texto visa apenas promover o entendimento histórico e político de maneira imparcial sobre o tema abordado, sem manifestar apoio ou concordância com as ideologias aqui descritas.)

O Integralismo brasileiro, materializado na Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932 por Plínio Salgado, constitui um movimento político singular na história do Brasil, caracterizado por seu nacionalismo, organicismo social e forte influência do catolicismo. Embora frequentemente associado ao fascismo europeu, o integralismo segue sendo um modelo totalmente nacional, longe de qualquer cópia — apesar de ter tido várias inspirações em movimentos estrangeiros como o fascismo italiano —, não era um movimento racista, pois os integralistas adoravam uma postura positiva em relação a miscigenação, não no sentido de valorizar a cultura étnica dos grupos porque eles defendiam a integração de todas as raças a uma cultura única brasileira, mas no sentido de que a miscigenação é uma característica intrínseca do povo brasileiro, ou seja, considerava a miscigenação como um pilar para o fortalecimento da identidade nacional, uma característica própria e singular do nosso povo. Plínio Salgado defendia a superação do preconceito de sangue e incluía os negros dentro de seu movimento, tratando-os como irmãos e com igualdade perante os outros. Essa integração multi racial reflete-se na saudação oficial do grupo político "anauê" que era em linguagem indígena, sendo assim, o integralismo apresenta particularidades que o distinguem como um fenômeno autenticamente brasileiro, ainda que com inspirações no integralismo lusitano e em elementos do fascismo italiano.

O integralismo brasileiro emergiu em um período de intensa polarização ideológica, marcado pela ascensão de movimentos autoritários e pela crise do liberalismo. Sua base teórica assentava-se em três pilares principais: nacionalismo, organicismo social e espiritualismo cristão. Ao contrário do liberalismo individualista e do materialismo marxista, o integralismo propunha uma sociedade hierárquica e harmônica, na qual os indivíduos estariam integrados em uma estrutura corporativa, sob a égide de um Estado forte e moralmente orientado pelos valores católicos. Plínio Salgado fazia críticas incisivas sobre ambos as ideológicas (socialismo e liberalismo) porque ele concluiu que ambas ideologias levavam a um controle do Estado por uma minoria, sendo ela uma elite aristocrática ou uma elite do funcionalismo público.


Como era a proposta de organização do Estado Integralista?


A proposta da forma de organização do Estado é totalmente diferente da organização atual, tendo como principais características a centralização do poder em um chefe da nação juntamente a uma câmara corporativa na qual os representantes das corporações ficariam. A câmara corporativa é como se fosse os representantes de grupos sociais, econômicos e culturais (como se fossem os representantes do povo) ou seja, ao invés de partidos para representar as pessoas, seriam as corporações.

O objetivo dessa câmara corporativa é manter o diálogo harmonioso entre as classes sociais, superando conflitos como os de capital e trabalho.

Também, vamos ter a operação dos Institutos (Estados-maiores) cada um com a sua função, um Instituto pode funcionar similarmente como um ministério mas com funções diferentes, há uma separação entre dois maiores institutos que, um é moral e cultural e temos os institutos científicos e técnicos que cuidavam dos avanços tecnológicos, desenvolvimento industrial e agrícolas.



Esse organograma reflete a visão do integralismo de uma sociedade hierárquica, disciplinada, nacionalista, com rejeição à democracia liberal e ao marxismo. É uma tentativa de organizar o Estado sob uma lógica autoritária, nacionalista e orgânica.


A Ação Integralista Brasileira (AIB) se destacou pela forte capacidade de mobilização popular, adotando práticas comuns aos grandes movimentos de massa da época, como o uso de uniformes — as conhecidas “camisas verdes” —, saudações simbólicas e uma organização de caráter quase paramilitar. Seu emblema, o sigma (∑), simbolizava a proposta de unir todas as camadas sociais em torno de um projeto nacional integrador. Com um discurso marcado pelo anticomunismo, pelo antiliberalismo e pela defesa dos valores tradicionais, o movimento conseguiu atrair diversos setores da sociedade, reunindo desde intelectuais e militares até operários e representantes de minorias étnicas, como o líder negro João Cândido, conhecido como o líder da Revolta da Chibata, foi filiado à Ação Integralista Brasileira (AIB), ele também chegou a liderar o núcleo integralista da Gamboa, um bairro do Rio de Janeiro.

Plínio Salgado em frente apoiadores
Plínio Salgado em frente apoiadores

Embora compartilhasse com o fascismo italiano a exaltação da autoridade, o culto ao líder e a rejeição à democracia liberal, o integralismo brasileiro diferenciou-se em aspectos fundamentais. Enquanto o fascismo italiano era secular e, em sua vertente racialista, a AIB enfatizava o catolicismo como base moral do Estado, muitos intelectuais integralistas, como Miguel Reale, insistiam na autonomia doutrinária do movimento, argumentaram que este representava uma adaptação brasileira do corporativismo cristão, distinto do totalitarismo europeu.

O período de maior expressão da Ação Integralista Brasileira (AIB) ocorreu ao longo da década de 1930, quando o movimento alcançou uma impressionante base de apoio, reunindo centenas de milhares de filiados em todo o país. Durante esse período, a AIB manteve uma relação de apoio inicial ao governo de Getúlio Vargas, especialmente no contexto de consolidação do Estado Novo, em 1937. No entanto, essa relação foi rompida após os acontecimentos de 1938, quando uma tentativa de tomada do poder por parte de militantes integralistas não obteve êxito, resultando na repressão e no enfraquecimento do movimento. Apesar desse revés, o integralismo não desapareceu completamente do cenário político brasileiro. Com o processo de redemocratização, seus líderes e simpatizantes reorganizaram-se na forma do Partido de Representação Popular (PRP), que permaneceu ativo por duas décadas, exercendo uma influência política modesta, mas constante, até sua extinção em 1965, após o advento do regime militar. Mesmo após o fim do PRP, as ideias integralistas continuaram presentes como uma corrente ideológica minoritária, sendo preservadas por simpatizantes e pequenos grupos. No século XXI, observa-se um certo renascimento dessas ideias por meio de organizações como a Frente Integralista Brasileira (FIB), que busca manter viva a memória, os princípios e os ideais que fundamentaram o movimento original.

O integralismo rejeitava o "individualismo democrático", acreditando que disputas eleitorais internas poderiam gerar polarizações internas, logo, enfraquecendo o movimento integralista. O modelo defendido era uma visão corporativista da sociedade e completamente hierarquizada, havia o chefe nacional, chefe regionais, estaduais e locais, cada um representando um segmento da sociedade, quanto mais o integrante do grupo integralista demonstrasse competência para liderar e capacidade administrativa, resultaria numa elevação de cargo da hierarquia, assim, o indivíduo mais competente e fiel ao integralismo, poderia ocupar o cargo máximo da nação (o chefe nacional), uma figura nobre e respeitada.

Assim, o Integralismo foi uma expressão autoritária adaptada ao contexto brasileiro, refletindo as tensões ideológicas do século XX. Mais do que uma simples cópia do fascismo, possuía características próprias, unindo tradição, nacionalismo e modernidade. Seu legado ajuda a entender como ideias autoritárias se moldaram à realidade social e política do Brasil.


"Quando se fala sobre integralismo no brasil se pensa logo em fascismo, na realidade o que nós éramos, eram nacionalistas de formação política visando a instalação de uma nova política no país, que não se contentar-se apenas com problemas do voto mas levasse em consideração ao lado da democracia os problemas sociais fundamentais da população." — Miguel Reale, Jurista e ex-secretário da Justiça do Estado de São Paulo.





 
 
 
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